24 de jan. de 2009



OS ANAIS DA HISTÓRIA DO SKATE NO BRASIL







Explicitamos a existência de algumas versões, provavelmente se investigarmos
outras fontes encontraremos novas abordagens. No meio desta história emblemática o
que se pode dizer sobre o surgimento de tal modalidade, é que tanto ela como outras
atividades ditas ‘radicais’4 estão associadas a um processo de transformação dos
comportamentos das sociedades ocidentais, o qual Norbert Elias chama tecnicamente
de ‘processo civilizador’. Esse processo é de longo prazo e envolve alterações nas
relações sociais, bem como no modo de vida das sociedades. Essas mudanças
desenvolvem-se na direção de um maior controle e autocontrole, por isso mesmo
criam-se e recriam-se novas práticas sociais, como a atividade Skate que está
associada ao lúdico, ao prazer, ao devaneio, ao risco e a aventura, para tentar
preencher alguns espaços vazios e proporcionar intensas emoções prazerosas num
determinado período histórico.







É possível evidenciar nos materiais coletados e analisados a presença de
alguns atores sociais atuantes no cenário do Skate neste início, como podemos citar,
em 1974 com seus Cadillac Kid (modelo símbolo da época) descendo as ladeiras da
Maria Angélica e Cedro, no Rio de Janeiro, os irmãos Marcelo e Luizito Neiva, Marcelo
‘Bruxa’, Alexandre ‘Gordo’ e Erivaldo de Souza ‘Maninho’. Enquanto em Sumaré, em
São Paulo, alguns skatistas, ávidos pelas emoções proporcionadas pela velocidade,
como ‘Maçarico’, Tchap-Tchura e Kao Tai.
A revista Tribo Skate 5 demonstra-nos um registro possivelmente considerável
como fase seminal do processo de esportivização da modalidade no Brasil. Refere-se
a ocorrência do primeiro grande campeonato de Skate, realizado em outubro de 1975
na Quinta da Boa Vista (Rio de Janeiro). A competição ocorreu na rua e suas
manobras de destaque eram: a clássica cavada no asfalto (a performance era agachar
o máximo fazendo estilo), ‘bananeira’ sobre o skate (handstand), rolamento de proa
sobre dois skates (nose-wheelis), piruetas, salto em altura (high jump), salto em
distância (barrel jump) e footwork. Ainda, identificamos através das fotografias do
campeonato, algumas características dos espectadores e dos competidores: cabelos
cumpridos, vestimenta representada por shortes curto e não muito largo, camisetas
com cores fortes e contrastantes, joelheiras de voleibol e/ou de goleiro de futebol, e o
tênis não era ‘lei’, diga-se isto porque muitos participantes estavam descalços (alguns
skates não possuíam lixas) e quando usavam tênis as marcas mais utilizadas eram as
tradicionais (Conga, Bamba e Rainha). Mas, além de ser o primeiro campeonato, o
que marcou foi o surgimento de duas inovações responsáveis pelo bom
aprimoramento das ferramentas básicas do skate: a primeira foi à elaboração do eixo
Tracker Trucks, mais largo, possibilitando melhores curvas; e a segunda foi as rodas
Road Rider substitutas das bilhas soltas – rolamentos com porcas auto travantes.6
Ao organizarem uma competição oficial, na qual também, se propôs classificar
os competidores, estabeleceram uma diferenciação entre a natureza da prática Skate
até então realizada, entre os praticantes se compararmos com os competidores e
entre os próprios competidores, neste caso destacamos as manobras (complexas,
refinadas, com estilos...) como um elemento diferenciador. O que entra em questão
também, é que, enquanto pesquisadores, não devemos entender as diferenciações
com olhar reducionista no sentido de idealizar e negar os pontos positivos dos
fenômenos sociais. Para pesquisadores objetos dotados de diferenciações, como
estudo da modalidade Skate tem apontado, devem ser construídos na sua
particularidade e pluralidade, para além de seu caráter ideológico. O exemplo do
campeonato demonstra outras dimensões a serem consideradas num objeto de
estudo, como por exemplo, propagação da atividade, maior sociabilidade entre os
participantes, nova maneira de sentir prazer tanto para os praticantes como para os
espectadores e novos comportamentos sociais identificados numa prática em
esportivização.


Como a esportivização é um processo, não se encerrou no episódio da Quinta
da Boa Vista/RJ. No ano de 1976, num domingo de 15 de agosto, realizaram o
primeiro Campeonato de Skate com dimensão nacional, no Clube Federal (Rio de
Janeiro) sob organização da Waimea Surf Shop, com o número de 34 inscritos7,
sendo
vencido por Flávio Badenes na categoria Sênior e Mário
Raposo na Júnior. As manobras eram 360s, wheelies e
handstands. Os skates eram quase todos importados das
marcas mais variadas: Bahne, Super Surfer, Cadillac, Hang
Tem... Os skates brasileiros eram o Torlay, feito pela fábrica de
patins paulista
, o Bandeirante, da fábrica de brinquedos e o
RK, que era a cópia do americano Bennett Pro, o primeiro eixo
feito especialmente para skate. As rodas possuíam ainda o
sistema de bilhas soltas, que repousavam em porcas cônicas,
travadas por uma contra porca.
texto :
Tony Honorato
PPGE/UNIMEP/CNPq



35 ANOS DEPOIS OS BAIRROS DO PACAEMBU E SUMARÉ GANHAM UMA PRAÇA COM DIREITO A PISTA DE SKATE NO LOCAL ONDE TUDO COMEÇOU PARA OS PAULISTAS.



20 de jan. de 2009

THE BRAZILIAN SUMMER TIMES -










Verão é picolé de Kisuco no palito reciclado, é milho cozido na água datorneira, é coco verde aberto pra comer a gosminha branca. Verão é prisãode ventre de uma semana e pé inchado que não entra no tênis. Mas oprincipal ponto do verão é.. a praia! Ah, como é bela a praia.
Os cachorros fazem cocô e as crianças pegam pra fazer coleção.
Os casais jogam frescobol e acertam a bolinha na cabeça das véias. Osjovens de jet ski atropelam os surfistas, que por sua vez, miram a pranchapra abrir a cabeça dos banhistas. O melhor programa pra quem vai à praiaé chegar bem cedo, antes do sorveteiro, quando o sol ainda está fraco e asfamílias estão chegando. Muito bonito ver aquelas pessoas carregando vintecadeiras, três geladeiras de isopor, cinco guarda-sóis, raquete, frango,farofa, toalha, bola, balde, chapéu e prancha, acreditando que estão deférias. Em menos de cinqüenta minutos, todos já estão instalados,besuntados e prontos pra enterrar a avó na areia. E as crianças? Ah, quegracinhas!
Os bebês chorando de desidratação, as crianças pequenas se socando por umaconchinha do mar, os adolescentes ouvindo walkman enquanto dormem. Asmulheres também têm muita diversão na praia, como buscar o filho afogado ecaminhar vinte quilômetros pra encontrar o outro pé do chinelo. Já oshomens ficam com as tarefas mais chatas, como perfurar o poço pra fincar ocabo do guarda-sol. É mais fácil achar petróleo do que conseguir fazer oguarda-sol ficar em pé. Mas tudo isso não conta, diante da alegria, dafelicidade, da maravilha que é entrar no mar! Aquela água tão cristalina,que dá pra ver os cardumes de latinha de cerveja no fundo. Aquela sensaçãode boiar na salmoura como um pepino em conserva.
Depois de um belo banho de mar, com o rego cheio de sal e a periquitacheia de areia, vem aquela vontade de fritar na chapa. A gente abre aesteira velha, com o cheiro de velório de bode, bota o chapéu, os óculosescuros e puxa um ronco bacaninha. Isso é paz, isso é amor, isso é oabsurdo do calor!!!!! Mas, claro, tudo tem seu lado bom. E à noite o solvai embora.
Todo mundo volta pra casa tostado e vermelho como mortadela, toma banho edeixa o sabonete cheio de areia pro próximo. O Shampoo acaba e a genteacaba lavando a cabeça com qualquer coisa, desde creme de barbear atédesinfetante de privada. As toalhas, com aquele cheirinho de mofo que só acasa da praia oferece. Aí, uma bela macarronada pra entupir o bucho e umadormidinha na rede pra adquirir um bom torcicolo e ralar as costasqueimadas. O dia termina com uma boa rodada de tranca e uma briga emfamília. Todo mundo vai dormir bêbado e emburrado, babando na fronha etorcendo, pra que na manhã seguinte, faça aquele sol e todo mundo possa seencontrar no mesmo inferno tropical. Qualquer semelhança com a vida real,é uma mera coincidência.
(Luis Fernando Veríssimo)